Cursos e serviços ajudam pesquisadores a redigir um bom trabalho científico
Autor: Fabrício Marques
Fonte ( e texto na íntegra) : revistapesquisa.fapesp.br
Pressionados a produzir conhecimento e a publicá-lo em revistas especializadas, os pesquisadores brasileiros são continuamente desafiados a demonstrar uma habilidade que vai além do talento científico: a capacidade de escrever de forma lógica e correta – e em inglês, que é a língua da ciência. A novidade é que está crescendo a oferta de serviços e iniciativas talhados para ajudar os pesquisadores nessa tarefa – na forma de workshops promovidos por especialistas, serviços de tradução e revisão e programas de computador capazes de dar forma a artigos científicos.
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O mercado de serviços para autores de artigos científicos cresce no mundo inteiro. Desde 2008, a Nature Publishing Group (NPG), editora que publica a revista Nature, disponibiliza um serviço de edição de papers. O NPG Language Editing é dividido em duas categorias. No serviço ouro, o texto é retrabalhado por dois editores especialistas no assunto e revisto por outros dois profissionais. No serviço prata, há um editor a menos no processo. A NPG não faz traduções – e deixa claro que o serviço não implica compromisso de aceitação do artigo pelas revistas da editora. Outro exemplo é a empresa norte-americana American Journal Experts (AJE), que reúne uma rede de doutores em vários campos do conhecimento. A AJE começou a operar em 2004 com ênfase na edição, tradução e revisão de artigos escritos por pesquisadores que não têm o inglês como língua nativa. Hoje presta serviços mais amplos, como a recomendação de periódicos talhados para cada tipo de artigo, e até uma simulação de peer review, na qual o paper é submetido a um especialista que tenta antecipar as críticas que o revisor poderá fazer. “Nossas recomendações permitem que o autor faça mudanças no manuscrito e aumente as chances de aceitação”, afirma Lisa Pautler, diretora da AJE. A empresa traduz manuscritos em seis idiomas, mas as traduções do português para o inglês são as mais requisitadas, segundo Lisa. “Os textos são traduzidos por um editor especialista na área e depois revistos por outro pesquisador que tem o inglês como língua nativa.” A Elsevier, uma das maiores editoras de livros e revistas científicas, com sede na Holanda, criou um programa internacional de workshops para editores de revistas científicas e também para autores de artigos, levado a vários países. “Os eventos fazem parte da parceria da Elsevier com as instituições de pesquisa clientes”, diz Ana Heredia, editora de publicações científicas da Elsevier no Brasil. Só no ano passado, promoveu esses workshops na Costa Rica, Panamá, Colômbia, Peru, Chile, Uruguai e Brasil.
O exemplo que melhor representa essa tendência talvez seja o da empresa Publicase, que, além de oferecer serviços de tradução e revisão de artigos, também criou oficinas e cursos de treinamento para orientar pesquisadores interessados em colocar seus achados no papel. A empresa tem como sócias as biólogas Marcia Triunfol Elblink e Andrea Kaufmann-Zeh, que trabalharam como pesquisadoras no exterior e depois enveredaram para a comunicação científica. No início da década passada, atuaram como editoras, respectivamente, das revistas Science e Nature. A Publicase foi criada em 2007 e já prestou serviço a muitas instituições. Agora, com apoio da FAPESP, está promovendo uma série de workshops nas universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp).
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ROTEIRO PARA ESCREVER UM BOM ARTIGO (...)
1) Planeje na fase do projetoEscolha revistas em que sua pesquisa poderia ser publicada e analise nelas artigos de pesquisadores com o mesmo perfil que você tem – afinal, eles viveram as mesmas dificuldades para publicar que você enfrentará. Estude as exigências de um trabalho desse tipo e tente adequar seu projeto de pesquisa a elas.
2) Organize as ideiasAntes de começar a escrever, analise os dados e veja a que conclusões você pode efetivamente chegar. Exponha oralmente aos colegas e faça isso até constatar que seu trabalho está claro. Escreva primeiro o resumo, para garantir que tem o domínio sobre o conjunto dos dados e está pronto para iniciar a redação.3) Escreva de trás para frenteComece pelas conclusões, destacando o que o artigo traz de novo. Em seguida escolha as figuras e redija apenas os resultados que usou para chegar às conclusões. Depois parta para os procedimentos e a discussão. Ao final, faça a introdução, que deve justificar os objetivos. Por fim, cuide do título.
4) Capriche na carta ao editorA apresentação do artigo ao editor é uma chance de usar uma abordagem menos formal para defender as conclusões de seu artigo e cativar o editor e não deve ser menosprezada como ferramenta de divulgação. Muitos pesquisadores perdem essa chance ao fazer apresentações burocráticas e desinteressantes.5) Aprenda com fracassosSe o manuscrito for rejeitado, tente descobrir os motivos. O feedback do fracasso é essencial para poder corrigir os erros do artigo ou pelo menos para não repeti-los na pesquisa seguinte. Esse expediente também ajuda a aprimorar a redação e a aprender a escolher o periódico adequado.
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